Compositor de Aquarela, Toquinho compartilha memórias em documentário
Um dos maiores nomes da música popular brasileira, Antonio Pecci Filho, o eterno Toquinho, tem sua trajetória revisitada em um documentário emocionante: "Toquinho: Encontros e um Violão", dirigido por Erica Bernardini. Aos 78 anos, o compositor de clássicos como Aquarela e parceiro de grandes nomes da MPB como Vinicius de Moraes, Chico Buarque e Mutinho, revela uma vida cheia de encontros, memórias e muita música.
UM MENINO DO BOM RETIRO PARA O MUNDO
A história de Toquinho começa nas ruas sem asfalto do bairro Bom Retiro, em São Paulo, onde brincava e sonhava. Anos depois, essas mesmas ruas dariam lugar a canções que marcaram gerações. Entre elas, a inesquecível Aquarela, composta em parceria com o italiano Guido Moura, uma música que há quatro décadas encanta crianças (e adultos) no Brasil e na Itália.
O documentário destaca a relação íntima do músico com a Itália, país que o acolheu durante diversas fases de sua carreira e onde ele reencontrou sua criatividade, muitas vezes incentivado por amigos como Chico Buarque, que se exilou em Roma durante a ditadura militar.
A MÚSICA E A RESISTÊNCIA
Toquinho também aborda com sensibilidade o impacto da repressão militar em sua vida e na de amigos próximos. A música Lembranças, feita em parceria com Mutinho, é uma homenagem a Tenório, amigo torturado e morto pelo regime. Com versos marcantes como:
"Outros amigos se foram, guardando seus ideais/Entre verdade e delírio, uns semearam saudade no exílio, outros não voltam jamais", a canção é um tributo aos que sofreram e lutaram por liberdade.
IRMÃO, AMIGO E INSPIRAÇÃO
Outro momento tocante é a relação com seu irmão, João Carlos Pecci, que perdeu os movimentos das pernas após um acidente de carro a caminho de um show. Em resposta ao pedido de opinião sobre o livro que João Carlos havia escrito, Toquinho compôs a música Meu Irmão, uma declaração de amor e respeito fraternal: "Você meu grande herói, mais poderoso que o inimigo".
DOS DESAFIOS À DEDICAÇÃO DIÁRIA
Toquinho também compartilha momentos de insegurança na carreira, como o receio de tocar em uma casa de shows quase vazia na Itália. No entanto, sua dedicação ao violão, que ele toca diariamente até hoje, é uma marca registrada de sua jornada. Ele diz que sente falta da "força física da música" se passa muito tempo longe do instrumento.
VINICIUS E A PARCERIA IMORTAL
A parceria com Vinicius de Moraes, descrita como um encontro de almas livres e hereges, é celebrada no documentário. Pedro Bial sintetiza a dupla como um exemplo de nobreza musical que transcendia formalidades, conquistando públicos com autenticidade e genialidade.
UM LEGADO VIVO
Repleto de fotos raras, como uma ao lado de Bob Marley e lendas do futebol brasileiro, o documentário é um tributo ao legado de Toquinho. Realizado no âmbito dos 150 anos da imigração italiana no Brasil, a produção integra o Festival de Cinema Italiano no Brasil e pode ser assistida gratuitamente até o próximo domingo (8) no site oficial.
Seja pelas ruas do Bom Retiro, pelos palcos do mundo ou pelas melodias que eternizou, Toquinho nos lembra que, com um violão e histórias para contar, é possível pintar "um sol amarelo" em qualquer folha da vida.
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